Uma palavra caiu do teto e escorreu pelo ventilador
feito lágrima em dia de aniversário
poça de não seis
pupila sem menina nos olhos
encanamento entupido que transborda
palavrões e preces
santos beijados viram a face
calçadas portuguesas de beira de praia
que os coqueiros roubam
e levam pras minas que jazem absolutas
subrepticiamente escondidas num silêncio de estalactite
mais uma gota
suco de sentimento de corpo
carne sensível
tolices, tolices, fragmentos do que não volta mais
é só mais uma data
dia como outro qualquer
dia como, dia me come
noite de carpideira
onde a palavra pingou
no meio do olho
no meio do corpo
no meio da carne
nada mais
nada menos
é só um dia qualquer
querelancia de abandonado
não há nada a fazer
Heideger já havia advertido
parido, cuspido
o (i)mundo nú
te espera
banguelo
careca
sua dependência
é patética
pode chorar
e deixar todas as palavras que caem do teto caírem
pôe um balde debaixo
para que não escorram pelo piso
e encharquem as escadas
que te levarão de novo
ao seu aniquilante nada
que já estava antes
e permanecera depois
deixe as palavras pingarem
você não criou nenhum neologismo
tudo isto já estava antes de você
você não é tão criativo quanto um psicótico
que inventa aquilo que nunca foi dito
o máximo que você consegue é descobrir
e nesse momento descobre
que as palavras pingam
e uma delas caiu no seu olho
e fez você chorar