segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Por que Joyce disse e não disse tudo ? Ou um fragmento deturpado de Finnegans







Stefen do Joyce dizia que o tempo era, o tempo é, o tempo não será mais. E então Nuvuoleta não pensou mais em nada, nem em sua leve, nem em sua longa, nem em sua vida. Não canceulou nada, não subiu pelos baluastros nem canceulou compromissos, sem gritos de nuveis nominhos ninfantis. Nem houveram tules nem passagens, nem rios nem correntes, nem indo, nem vindo, nem dada, nem doida nem dança, sem apelodo nenhum. Não haviam celenovelas, nem lunávidos, nem ares vulgares das estrelas de teleamor, não haviam lágrimas nem milágrimas, e rios não correram lagos por ela nem por ninguém, sem mágoas sem água, ora, ora, ora, vá-te embora sem chorar.







Anderson Matos

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Prelúdio à chave do desejo ou como tratamos sempre tão pateticamente as mesmas questões










A moça que estava na minha frente na fila tinha sardas. Sardas no ombro como as suas. A outra que estava mais a frente, tinha os olhos verdes, via-os por uma fresta no olhar que ela deixava enquanto beijava deliciosamente seu acompanhante. Você não tem olhos verdes, mas a fresta no olhar enquanto beija é mais ou menos como aquela que eu via. Senti um mal estar. Embora houvesse achado delicioso aquele lugar, temi por instantes imaginá-la curtindo assim tão deliciosamente um lugar. Havia sexo no ar. Pessoas se beijavam de uma maneira absolutamente permissiva e me afligiu desejar beijar assim. Me afligiu mais ainda imaginar que você também tem boca. Boca que ultimamente só usa para me xingar. Boca que nunca mais me disse que me amava. E não bastasse isso, essa boca era uma boca tão humana quanto a minha, e que estava submetida a todos os imperativos que a carne obriga e que fatalmente, beijaria, não mais a mim, na verdade não importa quem, outrem, alguém que tivesse dito a palavra certa na hora certa. A boca que fala a boa palavra no ouvidinho direitinho, ou esquerdinho, pouco importa o ouvido, importa mais a palavra bem dita no ouvido certo. Suplícios e delícias do começo e do fim do amor. Tendo achado tão boa a noite, odiei-te mais uma vez por um instante por me obrigar a vagar noite adentro, noite afora, caçando corpo. Não mais corpo de mulher amada, corpo, apenas corpo, carne onde habito e que tanto me obriga. Freud grita na minha cabeça, o homem tem uma existência dúplice, serve a si mesmo e serve a vida. É um elo numa corrente, o componente mortal de uma substância imortal. Eu, esse mortalzinho finito, me vejo substância besta e desejante, eu carne querendo apenas carne, acabo perpetuando crias. Desejo apenas sexo, na verdade desejo sexo nenhum. Queria amor de verdade, aqueles onde se beija na boca deliciosamente. Mas a corrente onde sou apenas um elo parece que não liga muito pra essas coisas mais modernas, essa descoberta recente intitulada amor. Sêmem afim procura óvulo disponível para um encontro indissolúvel. Ditame imperativo que se abriga por de trás do desejo dos viventes.




Anderson Matos 04.06.2006